Estamos
aí, em uma nova produção, novos estudos, bons caminhos...
Acredito
que a maior indagação sobre esta proposta seja: Vivemos na época
das super ferramentas, dos softwares, das múltiplas matérias-primas,
dos efeitos especiais, onde qualquer coisa pode ser representada de
qualquer forma, já a arte nem precisa mais do objeto obra . Então
qual o intuito de realizar propostas nas formas (somente formas)
naturalistas, tradicionais, acadêmicas e, por ventura, clichês?
Responder
essa pergunta me coloca a refletir; mesmo com a proliferação da
internet, da redução de conceitos complexos em informações “fast
food”, da redução física das formas de arquivamento de
documentos em texto, das profecias de morte de diversas formas
comunicativas, ainda nos encontramos capazes de ler livros. Lemos o
mundo e ainda podemos ler nossas ressignificações, isso não faz de
quem realiza um artista (nem precisamos mais desta alcunha), mas é
um compositor de signos que podem ser lidos.
No
meu caso, como compositor, atualmente, estou pintando, esculpindo e
escrevendo como um escritor. A proposta que desenvolvo exige de mim a
postura que Umberto Eco chamaria de ilustrador e, diferentemente
dele, não vejo isso de forma pejorativa. A ilustração sempre
descende de algo, é vinculada em ordem inferior a uma composição
maior. A composição maior é objeto da ilustração. Nesta proposta
estou a ilustrar e o objeto das minhas representações são as
formas da tradição, ranços e coisas da origem.
Da
tradição sigo as formas tradicionais do fazer, as estruturas que
criamos como tradição, veladuras culturais de uma realidade, que
transparecem em formas de agir, comemorar, comunicar e outras. É da
tradição que os suportes utilizados nessa proposta se justificam,
pois na conjuntura cultural em que foram produzidas, nem seriam
dignas de leitura sem estas formatações, laços arcaicos da arte
como tradição.
Os
ranços são da ordem particular e coletiva. Da ordem particular,
trato da revivência dos paradigmas do fazer, da artesania da mão e
da mente ao industrianato do botão e da mente. Da ordem do coletivo,
observo como as estruturas culturais se irrompem, como diversas
correntes d´água que formam um leito do rio, se sobrepõem e
passam. A experiência dos processos culturais exigem imersão, tem
que ser uma proposta de vivência, caso contrário só percebemos a
superfície lisa do rio. Mais que a superfície lisa, somos formados
pelas cicatrizes. Abordar os ranços como objeto impõem a
responsabilidade de falar por mim, da minha corrente, da experiência
da superfície à imersão no rio.
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