quinta-feira, 25 de outubro de 2012


Estamos aí, em uma nova produção, novos estudos, bons caminhos...

Acredito que a maior indagação sobre esta proposta seja: Vivemos na época das super ferramentas, dos softwares, das múltiplas matérias-primas, dos efeitos especiais, onde qualquer coisa pode ser representada de qualquer forma, já a arte nem precisa mais do objeto obra . Então qual o intuito de realizar propostas nas formas (somente formas) naturalistas, tradicionais, acadêmicas e, por ventura, clichês?

Responder essa pergunta me coloca a refletir; mesmo com a proliferação da internet, da redução de conceitos complexos em informações “fast food”, da redução física das formas de arquivamento de documentos em texto, das profecias de morte de diversas formas comunicativas, ainda nos encontramos capazes de ler livros. Lemos o mundo e ainda podemos ler nossas ressignificações, isso não faz de quem realiza um artista (nem precisamos mais desta alcunha), mas é um compositor de signos que podem ser lidos.

No meu caso, como compositor, atualmente, estou pintando, esculpindo e escrevendo como um escritor. A proposta que desenvolvo exige de mim a postura que Umberto Eco chamaria de ilustrador e, diferentemente dele, não vejo isso de forma pejorativa. A ilustração sempre descende de algo, é vinculada em ordem inferior a uma composição maior. A composição maior é objeto da ilustração. Nesta proposta estou a ilustrar e o objeto das minhas representações são as formas da tradição, ranços e coisas da origem.

Da tradição sigo as formas tradicionais do fazer, as estruturas que criamos como tradição, veladuras culturais de uma realidade, que transparecem em formas de agir, comemorar, comunicar e outras. É da tradição que os suportes utilizados nessa proposta se justificam, pois na conjuntura cultural em que foram produzidas, nem seriam dignas de leitura sem estas formatações, laços arcaicos da arte como tradição.

Os ranços são da ordem particular e coletiva. Da ordem particular, trato da revivência dos paradigmas do fazer, da artesania da mão e da mente ao industrianato do botão e da mente. Da ordem do coletivo, observo como as estruturas culturais se irrompem, como diversas correntes d´água que formam um leito do rio, se sobrepõem e passam. A experiência dos processos culturais exigem imersão, tem que ser uma proposta de vivência, caso contrário só percebemos a superfície lisa do rio. Mais que a superfície lisa, somos formados pelas cicatrizes. Abordar os ranços como objeto impõem a responsabilidade de falar por mim, da minha corrente, da experiência da superfície à imersão no rio.

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